Os primeiros 1.000 dias de uma criança
ARTIGO GO
Cuiabá, 26 de Novembro de 2020
Por: Paola Fadul
O desenvolvimento é um processo estrutural e funcional associado ao crescimento, maturação e aprendizagem. Ocorre de forma ordenada e progressiva. Cada capacidade adquirida precede e é fundamental para a aquisição da próxima. DNPM é uma abreviação comum para os leitores de assuntos relacionados com a infância. O seu significado é extremamente extenso, pois estamos falando do Desenvolvimento Neuropsicomotor.
Após o nascimento, o bebê continua seu desenvolvimento e crescimento. Grande parte dessa evolução ocorre no primeiro ano de vida, e são consideradas fundamentais para a adaptação no meio externo.
Com o tempo a criança vai adquirindo o controle do próprio corpo, substituindo os movimentos primitivos por movimentos mais delicados e pré-determinados. O instinto e a curiosidade desencadeiam o desenvolvimento motor e sensorial, atingindo o objetivo de explorar tudo aquilo que o rodeia.
O desenvolvimento neuropsicomotor, tem relação direta com a importância dos primeiros 1.000 dias da criança, que sempre ouvimos falar. São nesses dias, principalmente, que observamos as maiores evoluções do desenvolvimento. Fatores genéticos, gestacionais e fatores ambientais são os responsáveis por todas as variáveis nesse período.
Os fatores ambientais tem grande influencia na aquisição das funções nesses primeiros anos de vida. Um ambiente desfavorável, sem estímulos e ausente de afetividade pode sim resultar em atrasos do desenvolvimento. Contudo, aquela criança que convive em um ambiente familiar adequado, com estímulo diário, recebendo carinho e afeto tem suas aquisições adquiridas conforme o esperado.
O desenvolvimento neuropsicomotor é avaliado através de escalas, da anamnese e o exame neurológico. A anamnese deve ser muito minuciosa e conter detalhes específicos sobre a história familiar, história da gestação/parto/período neonatal, contexto social e familiar e os marcos do desenvolvimento.
Como podemos ver esse processo é extremamente complexo e possui inúmeras variáveis que podem modificar seu trajeto. Cada criança deve ser avaliada individualmente, já que existem as variações de idade para o início de todas as aquisições. Não podemos exigir que todas as crianças desenvolvam a fala ao mesmo tempo, mas temos que ter atenção para o limite máximo que isso deve acontecer.
Os atrasos do desenvolvimento neuropsicomotor podem ter como etiologia os fatores genéticos (síndromes, malformações), a desnutrição materna, tocotrauma (trauma no parto), a asfixia perinatal, a desnutrição, o traumatismo cranioencefálico, infecções, déficit auditivo e falta de estímulo.
A importância de uma avaliação adequada do Desenvolvimento Neuropsicomotor vem sendo enfatizada a cada dia na rotina dos profissionais da saúde, considerada uma assistência preventiva. O aumento da sobrevida de prematuros por exemplo, diminuiu os índices de mortalidade infantil, mas passou a exigir mais atenção dos profissionais que acompanham essas crianças. Avaliar o seu desenvolvimento nas consultas de rotina permite um diagnóstico precoce frente a qualquer atraso e então uma intervenção específica.
Essa avaliação é composta pela função motora, cognitiva, social, sensorial e linguagem. Nem sempre o atraso acomete apenas uma função. É comum nos depararmos com um distúrbio motor causado por um déficit cognitivo por exemplo, e o contrário também acontece. Por isso, quando mais de uma função compõe o atraso, temos que determinar a causa primária, assim poderemos intervir diretamente naquela causa.
Temos que enfatizar que a avaliação do desenvolvimento neuropsicomotor tem o objetivo de prevenir, diagnosticar, tratar e reabilitar. O resultado de todo esse trabalho é dar apoio e estímulo para todas as crianças se desenvolverem com seu potencial máximo.
Dra. Paola Fadul é médica, pediatra, com especialidade em neurologia infantil
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