A suspensão de 19 padres por alegações de abuso sexual

A Igreja Católica deve revelar detalhes da suspensão a 19 padres colombianos por alegações de abuso sexual?

Dos 19 padres suspensos, 14 são da Arquidiocese de Villavicencio. / Arquivo

Ontem (03) foi divulgada publicamente a suspensão de 19 padres colombianos por uma queixa de abuso sexual. O monsenhor Elkin Álvarez, secretário geral da Conferência Episcopal da Colômbia,  explica como o processo é realizado na igreja nesse tipo de caso.

Em uma decisão histórica e na véspera do início da Semana Santa, uma das mais importantes comemorações da comunidade católica, a Arquidiocese de Villavicencio (Meta) suspendeu 14 padres de suas acusações por alegações de abuso sexual. Segundo a entidade, foi aberto um processo preliminar de investigação contra os envolvidos e o Ministério Público seccional foi informado dos fatos.

A Arquidiocese explicou, por meio de comunicado divulgado ontem, que aguarda o início do processo canônico criminoso para que as respectivas investigações sejam realizadas. Além disso, afirma que teve conhecimento dos casos por meio de uma denúncia apresentada em 14 de fevereiro de 2020 por um idoso, que alegou atos contra a moralidade sexual por vários padres da arquidiocese de Villavicencio.

Essa denúncia também acusa padres no município de Acacías e na Guaviare, mas essas arquidioceses não se pronunciaram sobre isso.

"Consciente de que esses atos são extremamente graves, a Arquidiocese de Villavicencio lamenta e sente profunda dor por esta situação", afirmou o comunicado.

O Monsenhor Elkin Álvarez, secretário geral da Conferência Episcopal da Colômbia, esclarece as implicações da decisão tomada pela Igreja Católica Colombiana.


É o primeiro caso de suspensão de padres por alegações de abuso sexual?

Não, desde 2001, quando o Papa Bento XVI proferiu o decreto estabelecendo os processos a serem seguidos em casos de alegações de abuso, investigações e suspensões foram realizadas na Colômbia. Não é o primeiro caso de padres suspensos por alegações de abuso sexual.


Quantos casos existem desde então?

Na Conferência Episcopal, não sabemos um número exato, mas houve muitos padres suspensos nos últimos 20 anos. Esses casos são tratados pelas dioceses. Estamos trabalhando com vários profissionais para obter uma visão geral de todos os casos.


Dessas suspensões, já existem casos com falha?

Sim, a Santa Sé encontrou elementos de culpa e aí a decisão é a expulsão do ministério. Também houve casos em que, após a investigação, a inocência do padre pode ser comprovada.


Se houve outros casos, por que eles não foram divulgados publicamente?

A suspensão dos 19 padres de ontem foi mais pública, mas as outras informações sobre suspensões anteriores não foram. Isso nunca foi feito em segredo, apenas eles foram divulgados às respectivas autoridades e não à opinião pública.

O que você diria às pessoas que interpretam que a Igreja Católica, ao não tornar públicas essas suspensões, comete uma omissão de dever?

No tratamento dessas situações sempre houve processos. O levantamento do sigilo papal foi feito pelo Papa Francisco em 17 de dezembro de 2019, e a partir desse momento os arquivos não têm a reserva de alto nível que tinham antes. As informações podem ser compartilhadas com as vítimas ou com entidades competentes para investigações.


Quais são as diretrizes que as dioceses da Colômbia devem cumprir quando há relatos de abuso sexual?

O procedimento geral é receber a denúncia nas dioceses do país, se uma investigação preliminar for aberta e medidas de precaução forem tomadas. Isso deve ser levado ao conhecimento do Ministério Público para fins criminais e, em seguida, o caso deve ser enviado à Santa Sé para fazer as determinações finais.


Por que você acha que as dioceses de Guaviare e Acacías, que também têm padres suspensos pela denúncia, não se pronunciaram?

Damos as falas, mas não conheço detalhes da incardinação dos outros padres envolvidos, mas imagino que, se o evento ocorreu em Villavicencio, é porque correspondeu a essa diocese e foi por isso que divulgaram uma declaração. Nós, como Conferência Episcopal, não podemos obrigar nenhuma diocese a tornar públicas as queixas. 

A norma que o Papa Francisco emitiu no ano passado considera apenas queixas de abuso de crianças e adultos com deficiência. Você receberia uma reclamação de um adulto não deficiente?

A Conferência Episcopal não trata de reclamações, mas são as dioceses e têm autonomia. Se a qualquer momento tomarmos conhecimento de reclamações, nossa responsabilidade é encaminhá-las a um bispo diocesano ou ao superior de uma comunidade religiosa. Sabemos que toda forma de abuso deve ter alguma medida; em cada situação, os fatos devem ser altamente valorizados. O papa considera que menores e adultos em condições de vulnerabilidade devido a uma deficiência são bem-vindos por lei.


Que mensagem você envia aos paroquianos que souberam da suspensão desses padres?

A mensagem é que fizemos muito para evitar essas situações. Lamentamos em todos os casos em que há abuso contra menores. Queremos fazer o que for necessário para que não haja mais abusos por parte dos membros da Igreja. Esperamos que as medidas com esses padres suspensos sejam sempre eficazes.

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