CÁCERES - 243 anos de história a celebrar.
Recebendo águas do Sepotuba e do Cabaçal, o Rio Paraguai margeia a cidade, criando a linda e inesquecível paisagem
Quarta-feira, 06 de outubro de 2021
Pensem numa cidade tão identificada com seu rio Paraguai e a pesca, que a maneira de seu povo agradar a alguém é chamando-o de Meu peixe! Esse lugar é Cáceres, um paraíso no Pantanal, ao lado da Bolívia, onde vivem 94.861 cacerenses natos e adotados, e onde se promove o maior festival de pesca fluvial embarcada do mundo.
Somem a isso cenários de rara beleza natural, a sede da Universidade do Estado (Unemat), a abençoada localização geográfica que a faz ponto mais ao Norte da Hidrovia do Mercosul e ponto equidistante do Corredor Bioceânico.
Essa cidade, onde o rio Paraguai passa ficando, completa 243 anos de fundação neste 6 de outubro ainda convivendo com a pandemia do novo coronavírus.
Cáceres foi fundada em 6 de outubro de 1778, por ordem do quarto governador da província de Mato Grosso e capitão-general Luiz de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres – daí, seu nome –, à margem esquerda do rio Paraguai, para reforçar a presença da Coroa Portuguesa na área de fronteira com os domínios da Espanha. Ao lado da Catedral Diocesana de São Luís, na Praça Barão do Rio Branco, está o Marco do Jauru, construído em Lisboa e que foi colocado à margem do rio Jauru em 18 de janeiro de 1754, pelo primeiro governador de Mato Grosso, Dom Antônio Rolim de Moura Tavares, para demarcar a fronteira dos domínios de Portugal e Espanha, extraída do Tratado de Madrid. Em 2 de fevereiro de 1883 esse memorial foi removido para o local onde agora se encontra, pelo então tenente-coronel Antônio Maria Coelho.
O município, com 24.593,123 quilômetros quadrados, é um dos maiores em Mato Grosso, e supera a extensão territorial de Sergipe, de 21.910,348 quilômetros quadrados. Cáceres tem densidade demográfica de 3,61 habitantes por quilômetro quadrado. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0.708 numa escala de zero a um e a renda per capita R$ 19.896,86. A cadeia pecuária é a principal atividade econômica e seu rebanho bovino é de um milhão e cem mil cabeças de mamando a caducando. O turismo tem importante participação na economia. A cidade promove anualmente o Festival Internacional de Pesca Esportiva (FIPe), considerado a maior competição de pesca embarcada em água doce no mundo – esse evento movimenta o setor turístico.
Comarca de Terceira Entrância, Cáceres também é sede do aquartelamento do Batalhão de Fronteira do Exército. A Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) nasceu em Cáceres, onde se localiza sua reitoria e o principal campus.
No campo da memória militar Cáceres reverencia o sargento do Exército Luiz Geraldo da Silva, ao qual deu o nome de seu estádio municipal e o popularizou enquanto Estádio Geraldão. Luiz Geraldo da Silva morreu nos campos de batalha na Itália, lutando contra o nazismo e o fascismo nas fileiras da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Foi um dos 16 mato-grossenses que derramaram sangue e perderam a vida na Segunda Guerra Mundial
Cidade plana, Cáceres tem uma das maiores taxas proporcionais de bicicleta por habitante no Brasil. No centro as ruas são estreitas e serpenteiam entre o casario histórico. Nos bairros novos as vias são largas e boa parte da cidade é pavimentada.
Ponto mais ao Norte da Hidrovia do Mercosul, com 3.342 quilômetros até Nueva Palmira, no Uruguai, e que também banha a Bolívia, Paraguai e Argentina, Cáceres é perfeitamente identificada com a navegação fluvial, que em seus primórdios foi seu único meio de acesso. Pela hidrovia a economia cacerense exportava charque, poaia, madeira, açúcar mascavo, látex, milho e arroz, e importava manufaturados, cerâmica, cimento, medicamentos e outros produtos.
Um projeto prevê a construção do Porto de Santo Antônio das Lendas, cerca de 86 quilômetros abaixo das instalações portuárias existentes na área urbana. A obra ainda não começou, apesar de lançada há quase duas décadas. Além disso, para viabilizar o embarque será preciso pavimentar 68 quilômetros da BR-174 até a barranca do rio – esse trecho foi federalizado, mas tanto a pavimentação quanto o complexo portuário permanecem no papel.
Inicialmente a hidrovia era seu único meio de acesso. Com o passar do tempo a cidade ganhou outras matrizes de transporte e conta com Aeroporto Nelson Dantas, que tem pista pavimentada; com acesso por rodovias federais asfaltadas para o Centro-Sul, Rondônia e Bolívia, e estradas estaduais também com pavimento, para as cidades circunvizinhas, à exceção de Porto Estrela. Cáceres dista 210 quilômetros de Cuiabá pela BR-070 e 85 quilômetros de San Matias, na Bolívia, pela mesma rodovia.
Em sua expedição pela Amazônia em 1913/14, o ex-presidente americano Theodore Roosevelt passou por Cáceres acompanhado pelo futuro Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.
O médico, jornalista e líder da revolução baiana Sabinada, Francisco Sabino Vieira, após condenação e comutação de sua pena capital viveu em Cáceres e prestou serviços médicos humanitários aos cacerenses. Reconhecendo seu trabalho a cidade lhe rende homenagem: uma rua recebeu o nome de Dr. Sabino Vieira.
A sanguinária Coluna Prestes cruzou as terras cacerenses em sua fuga para a Bolívia.
Cáceres enfrenta problemas com o narcotráfico. Por sua localização na fronteira com a Bolívia se tornou rota da cocaína. Parte da população carcerária feminina cacerense é formada por bolivianas presas transportando pequenas quantidades de drogas. Essas mulheres são chamadas de “mulas” – mesmo tratamento dispensado aos homens.
Cáceres é um dos cinco municípios na fronteira com a Bolívia, com 983 quilômetros – 730 quilômetros em solo firme. Esse grupo se completa com Poconé, Porto Esperidião, Vila Bela da Santíssima Trindade e Comodoro.
LOGÍSTICA – Cidade no ponto equidistante no Corredor Bioceânico Atlântico-Pacífico, Cáceres espera a conclusão de um pequeno trecho de rodovia na Bolívia, e da liberação do mercado do volante profissional naquele país – controlado pela COB – central operária semelhante às entidades sindicais brasileiras -, para alcançar os portos do Norte do Chile e Sul do Peru, no Pacifico.
O gasoduto Bolívia-Mato Grosso cruza Cáceres, que não tem tem city gate para liberar o gás natural boliviano para indústrias e a frota automotiva daquela e das vizinhas cidades.
Em Cáceres a água chega em 79,50% dos imóveis construídos, a coleta de esgoto é de 5,66% e seu tratamento não vai além de 9,48%. A cidade recolhe 87,07% dos resíduos sólidos e dá destinação correta a eles.
Ao lado da cidade o rio Paraguai recebe as águas do Sepotuba e do Cabaçal. Ou seja, de cada 10 litros de esgoto lançado ao rio Paraguai – principal formador do Pantanal – nove não têm nenhum tipo de tratamento.
ZPE patina
Brasília, 7 de março de 1990. O presidente José Sarney cria a Zona de Exportação de Cáceres (ZPE) numa área de 247 hectares. Ao longo de 29 anos os governadores que se sucederam no cargo não conseguiram tirá-la do papel.
Depois de muitas promessas políticas, finalmente em fevereiro deste 2020 o governo estadual iniciou a construção das instalações administrativas da ZPE. Em julho, o governador democrata Mauro Mendes jurou por todos os santos que até meados de 2021 a obra será concluída.
Em Cáceres, quem bebe água não acredita mais nos prazos pra ZPE. A fala do governante estava alicerçada numa previsão de investimento de R$ 15,4 milhões naquele projeto. Tradicionalmente, obra pública em Mato Grosso nunca chega ao término ao custo inicialmente previsto: sempre surge um aditivo ali aqui ou acolá
ZPE – Para se entender ZPE: trata-se de um centro de industrialização que necessariamente tem que exportar 80% de sua produção podendo desovar 20% no mercado doméstico.
Digoreste News,
Série: Níver's do meu MT
Por Eduardo Gomes
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