Prefeito flagrado com R$ 505 mil é Bolsonarista e já foi acusado de desviar R$ 277 milhões

Ele foi eleito no ano passado com pouco mais de dois mil votos para comandar o município de 12 mil habitantes


 Terça-feira, 31 de agosto de 2021 

O dono da bagagem de mão em que a Polícia Federal encontrou R$ 505 mil no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, na última quinta-feira, 26, é o prefeito de Cerro Grande do Sul (RS), Gilmar João Alba.

O dinheiro foi encontrado armazenado em caixas de papelão durante a inspeção por raio-x. De acordo com a PF, ao ser abordado, o prefeito eleito em 2020 com pouco mais de 2 mil votos, disse inicialmente, que não sabia o valor total transportado. Na sequência, teria dito que carregava R$ 1,4 milhão.

“Em virtude da dúvida sobre a origem lícita do numerário, o montante foi apreendido pela Polícia Federal, todavia, durante a contagem, foi constatado que a soma era de R$ 505.000,00 (quinhentos e cinco mil reais), contrariando as versões do passageiro”, informou a corporação em nota.

A PF informou que abriu uma investigação para apurar a origem do dinheiro. Em caso de irregularidade, ‘Gringo’ que é proprietário de uma Tabacaria, poderá responder, entre outros crimes, por lavagem de dinheiro, na modalidade ocultação e crime contra o sistema financeiro nacional.

O transporte de dinheiro em espécie em território nacional, independente da quantia, não é crime, desde que a origem possa ser comprovada.


Desde desvio de R$ 277 milhões até 505 mil em caixas de papelão, quem é o bolsonarista Gilmar?

Em abril de 2020, Gilmar João Alba, protagonizou uma polêmica cena, na qual doa dinheiro a caminhoneiros e diz que a crise era culpa do PT, estimulando a continuar trabalhando mesmo com as recomendações sanitárias internacional de quarentena e isolamento social. Apresentando-se como um empresário ético, Alba já foi investigado por desvio de R$ 277 milhões e, em 2018, assediou seus funcionários a votarem em Jair Bolsonaro.

Na cena gravada em vídeo por um dos caminhoneiros que recebe a doação, Alba aparece no local dirigindo um carro esportivo Porsche Panamera e fazendo um discurso em defesa de Bolsonaro, que segundo ele salvou o país dos “comunistas”, dizendo aos caminhoneiros que “continuem a trabalhar” e, depois de contar 50 notas de 100 reais em dinheiro vivo diante das câmaras, exclama: “Tamo junto Bolsonaro! Tamo junto!”.

Vou doar 5 mil real [sic] agora, para comprar comida para todos os caminhoneiros, entendeu, e que todos fazer o que eu to fazendo. Meu apelido é Gringo Louco, dono da Tabacos D’Itália, 100% em dia com todos seus impostos. E fico feliz em poder estar ajudando vocês. 5 mil reais vou doar em dinheiro agora, pode botar pra onde vocês quiser esse vídeo, inclusive manda pra mim depois, tá bom?”, continua.

Em contradição ao discurso feito na gravação, Gilmar João Alba já foi alvo da Justiça, em 2018, por suposta participação no desvio de R$ 277 milhões em impostos, junto à Tabacos D’Itália, de Cerro Grande do do Sul (RS), por uma fraude com a criação de créditos fantasma, que depois eram usados para declarar na Receita e obter o ressarcimento.

No mesmo vídeo, Gilmar diz à platéia de funcionários, em tom de ameaça, que eles não são nada sem os empresários. “se nós, empresas, não existir (sic) no mercado, quem são vocês? Quem são vocês? Vocês são menos ainda… Não vai ser bolsa família que vai ter. Não vai ter bolsa família, não vai ter nada”.

Em meio a risos constrangidos, Gilmar intimida supostos eleitores do Partido dos Trabalhadores: “Me desculpem se tem algum PT, depois eu gostaria de saber também se tem algum PT no meio, é uma maravilha em saber e tentar mudar a cabeça dessa pessoa, porque ela tem que pensar um pouquinho nas empresas”.

Por fim, informa a seus subordinados que se Jair Bolsonaro não ganhasse, a companhia será fechada e todos perderão o emprego: “Se o Bolsonaro não ganhar, eu vou embora”.

Após audiência realizada no município de Santa Cruz do Sul, o empresário e o MP firmaram um TAC, Termo de Ajustamento de Conduta, no qual Gilmar se comprometeu a não praticar mais esse tipo de coação, identificado como assédio moral.

Ele também teve que desculpar-se e ler para os funcionários o conteúdo do acordo: “O senhor Gilmar se compromete a se retratar perante os trabalhadores e explicar as obrigações assumidas, com participação do sindicato. No ato ocorrerá a leitura integral das obrigações contidas no TAC”, diz o documento, assinado pela procuradora do Trabalho Enéria Thomazini.


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