Cinco capitais não tem vacina para aplicar - 49 países estão a frente do Brasil

 Vacinação é suspensa em capitais de estados do país por falta de imunizantes


  Terça-feira, 16 de março de 2021  

Maceió, Rio Branco, Rio de Janeiro, João Pessoa e Aracaju suspenderam a aplicação da primeira dose contra a Covid. Só há previsão para a segunda dose.

A enfermeira de São Paulo puxou a fila da esperança e o que se viu depois foram doses de alívio chegando primeiro para quem mais precisa: os profissionais da linha de frente - os mais vulneráveis.

Dona Alice já tomou as duas doses: “Foi um dia maravilhoso, porque eu peguei umas pessoas que me trataram muito bem. Não precisei nem pegar fila, porque não tinha fila e, na hora que eu tomei a vacina, parece que eu nasci de novo, porque tomei a vacina do Butantan”, conta Alice Siqueira Destro, de 87 anos.

Nos anos 1950, ela trabalhou no Butantan. Etiquetava vacinas que começavam a trazer alívio para as doenças de então. “A vacina foi assim uma glória para a ciência, para tudo, porque erradicou muita epidemia que teve aqui”, lembra Alice.

A humanidade levou séculos para desenvolver as primeiras vacinas. A da varíola, que causava devastação desde a antiguidade, só chegou em 1796. O imunizante contra a pólio, também uma doença muito antiga, demorou cinco anos para começar a ser testado na década de 1950. Esse olhar para a história torna ainda mais fascinante o que os cientistas conseguiram agora. Em menos de seis meses de pandemia, já tínhamos vacinas capazes de proteger contra doença grave e morte por Covid. E para honrar esses esforços dos pesquisadores pela vida, mais do que nunca, é preciso ter pressa.

Países que foram rápidos nas encomendas e diversificaram os fornecedores conseguiram acelerar a proteção de seus povos contra a Covid. As ilhas Seychelles são as campeãs - já vacinaram 63% da população. Logo atrás vem Israel com quase 60%; Reino Unido com 37%; Chile, 26%; Bahrein com 22%; e Estados Unidos com 21% da população vacinada com pelo menos uma dose.

O Brasil está lá embaixo no ranking. Ao todo, são 49 países na nossa frente, segundo o levantamento realizado pelo jornal “The New York Times”.

Os números do consórcio de veículos de imprensa mostram que os 10 milhões de vacinados representam menos de 5% de toda a população. O percentual é ainda menor se considerarmos quem recebeu as duas doses da vacina. Ou seja, ainda estamos longe do necessário para interromper a transmissão da doença.

Estudo da Fiocruz mostra que, se continuarmos com esse ritmo de vacinação, só conseguiremos imunizar toda a população em 2024. O epidemiologista Diego Xavier critica a falta de planejamento e diz que é urgente comprar mais vacinas e estabelecer uma meta diária.

“É lamentável a gente estar nessa posição por falta de organização, por falta de planejamento. Então, a gente precisa melhorar esses aspectos, criar metas factíveis e buscá-las. Dessa forma a gente vai sair dessa situação. Quando a gente aumentar essa capacidade de doses de vacinas no nosso país, o resto o SUS vai fazer de forma primorosa. A gente precisa aumentar o leque de possibilidades de vacinas e, se a gente faz isso, o benefício acontece em cascata, porque, daí, a gente pode retomar a economia com segurança, as pessoas podem voltar a trabalhar, os setores econômicos retomam também com segurança e todo mundo ganha”, afirma o epidemiologista da Fiocruz Diego Xavier.

Os Estados Unidos, por exemplo, levaram 26 dias para vacinar 10 milhões de pessoas. O Brasil precisou de 57 dias para atingir o mesmo número de pessoas imunizadas. Mas, até agora, os Estados Unidos vacinaram quase 71 milhões de pessoas, 7 vezes a quantidade brasileira.

A situação estaria ainda mais difícil não fosse o esforço do Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, de onde saíram mais de 70% das doses aplicadas em todo o país. Aumentar o número de fornecedores é urgente para fazer com que o Programa Nacional de Imunização funcione.

O Brasil, há pelo menos cinco décadas, é referência em campanhas de vacinação e erradicação de doenças. Chegou a vacinar 10 milhões de crianças por dia. Segundo especialistas, é preciso recuperar essa força com urgência.

“O Programa Nacional de Imunizações do Brasil é um programa excelente, é um dos grandes orgulhos da nossa saúde pública. Mas nós precisamos ter a vacina. Infelizmente, nossa quantidade de vacinas ainda é muito insuficiente. Nós saímos muito atrasado atrás de vacinas”, afirma Guido Levi, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações.

E há diferenças regionais em relação à vacinação. Em números absolutos, São Paulo foi o estado que mais vacinou no país: 2,892 milhões de pessoas - mais do que o triplo que Minas Gerais e Rio de Janeiro, que vem na sequência. Entre os que menos vacinaram, em termos absolutos, estão Amapá, Acre e Roraima.

Já em relação à população, o estado que mais vacinou proporcionalmente foi o Amazonas, que depois do colapso do sistema de saúde recebeu mais vacinas e conseguiu imunizar mais de 8% da população. Em seguida, estão São Paulo e Distrito Federal. Mato Grosso, Rondônia e Pará foram os que menos vacinaram proporcionalmente.

Também há diferenças entre os estados quando se compara o percentual de vacinados em relação às doses disponíveis. Mato Grosso do Sul foi o estado que mais aplicou doses: mais de 81%. Em seguida, vêm Distrito Federal e São Paulo, com praticamente 80% cada. Já Acre e Roraima aplicaram menos vacinas em relação às doses disponíveis.

É possível vacinar a população mais rápido. “Com todas essas estratégias de drive-thru, vacinação em ginásio, nós poderemos chegar, inclusive, a 1,5 milhão a 2 milhões de pessoas por dia. Então, o que nós precisamos nesse momento? É ter vacinas, porque o SUS tem capacidade e capilaridade de acelerar essa vacinação”, afirma Carla Rodrigues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações.

Cada um dos dez milhões de brasileiros que receberam doses das vacinas contra a Covid está se beneficiando da chance de viver com menos risco. Mas a sociedade como um todo, o país e o mundo só estarão realmente livres dos perigos da Covid quando a vacina chegar para todos os que precisam.

“Eu quero que ela chegue para todo mundo, porque eu estou muito feliz de ter tomado e estar tão bem. Mas eu estou infeliz por causa que não chega a vacina para todo mundo”, diz Dona Alice.

O Ministério da Saúde afirmou que trabalha para dar celeridade à vacinação; que distribuiu mais de 24,5 milhões de doses; que o Brasil é o quinto país no mundo na distribuição; que serão mais de 47 milhões de doses até o fim do mês; e mais 500 milhões de doses ainda esse ano.


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