Expectativa de queda da Selic torna antiga caderneta um bom negócio

A mais antiga forma de investimento no país tem várias vantagens em relação aos demais tipos de aplicação, destacam os analistas


A expectativa de queda na taxa de juros básica, a Selic, de 6,5% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, nos dias 30 e 31 deste mês está deixando a poupança novamente em evidência.

Especialistas são unânimes em afirmar que, com a Selic podendo atingir novo piso histórico, a caderneta é uma ótima opção de investimento, apesar de os gerentes dos bancos tentarem vender outros produtos que não são tão rentáveis.  Eles lembram que a velha poupança, com depósitos até 3 de maio de 2012, vai ficar ainda mais atraente, mas ninguém vai poder entrar.

Quem ainda tem dinheiro nela, orientam, é melhor deixar lá a não ser se for para cobrir dívida mais cara do que o rendimento dela, como cheque especial ou cartão de crédito.

De acordo com os analistas, até mesmo a nova poupança é uma ótima opção de investimento para quem quer fazer alguma reserva para emergências de curto prazo. Ela ganha, inclusive, de alguns títulos do Tesouro Direto, o Tesouro Selic, para aplicações em até seis meses. 

Os dados BC já mostram migração para a poupança. Os depósitos na caderneta superaram as retiradas neste mês em R$ 3,3 bilhões até o último dia 12, um aumento, por enquanto, de 32% sobre o saldo positivo de R$ 2,5 bilhões registrado em junho. 

O saldo total da poupança chegou a R$ 805,6 bilhões em 12 de julho. Aproximadamente 20% desse montante devem ser depósitos anteriores às mudanças das regras de remuneração da caderneta, pelas estimativas feitas pelo Correio em conjunto com especialistas e instituições financeiras. Ou seja, ainda há algo em torno de R$ 160 bilhões, um volume considerável, na poupança velha. 

“A poupança velha está imbatível. Ela ganha de todos os investimentos lastreados em juros, pois rende 6,17% ao ano. As melhores aplicações rendem a Selic, atual de 6,50% ao ano, mas ainda têm a incidência do Impostos de Renda e da taxa de administração cobrada pelos bancos”, afirma o economista Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) Oliveira. Mesmo a nova, segundo ele, chega a ganhar dos fundos que cobram taxa de administração acima de 1%.

Curto prazo 

O economista Fabio Gallo, especialista em finanças pessoais e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), destaca que até as aplicações no Tesouro Selic, normalmente recomendada para curto prazo perde para a poupança velha. Esse papel paga 100% da taxa básica mais 0,01% ou 0,02%. “Não podemos esquecer que esses títulos porque pagam Imposto de Renda de 22,5% se o resgate ocorrer em até seis meses, taxa de custódia e ainda há corretoras que cobram taxa de administração de até 2%”, alerta. “Quem tem dinheiro na poupança antiga, é melhor deixar lá, a não ser para pagar alguma dívida que cobre juros muito elevados, como cartão de crédito ou cheque especial, cujos juros são muito elevados”, orienta.

Na avaliação do economista e consultor Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central, a caderneta sempre será uma boa opção de investimento para o brasileiro que consegue guardar algum dinheiro no fim do mês. “A poupança, de forma geral, não é um investimento ruim e está ficando melhor com esse cenário de juros mais baixos. É por isso que está havendo migração e o saldo está crescendo. Quem tem dinheiro na velha poupança e não tiver problema de caixa, é aconselhável deixar lá para garantir o rendimento que o mercado de renda fixa não vai conseguir acompanhar”, explica. O professor de finanças do Insper Ricardo Rocha engrossa o coro recomendando a poupança como investimento para cobrir emergências de curto prazo. “Se eu tenho R$ 100 e estou querendo entender um pouco do sistema financeiro, abro uma poupança, e, aos poucos, me informo para encontrar opções de investimento melhores, como CDBs (Certificado de Depósito Bancário) que pagam 120% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), mas exigem um volume maior de aplicação”, afirma.

Jurandir Sell Macedo, professor de finanças pessoais, também não vê motivos para a retirada de recursos da poupança antiga. “Se a pessoa não precisar do dinheiro, não precisa retirar. É uma aplicação que rende mais que outras modalidades de renda fixa. É uma questão básica”, afirma. Ele lembra que o governo, para tornar o Tesouro Direto mais atrativo nesse cenário de juros mais baixos, reduziu de 0,30% para 0,25% na taxa de custódia. O educador e coach financeiro Silvio Bianchi, reforça que é preciso destinar os recursos para objetivos específicos. “Os investimentos dependem da hora que for o saque. Não adianta correr atrás de taxas grandes e retirar os recursos antes. O ganho pode virar uma perda”, declara.

Apesar de a Selic estar no menor patamar da história e a inadimplência caindo, os juros de mercado continuam altos. Analistas culpam a concentração  e o spread  bancário (que inclui margem de lucro, custos operações e tributos). Pelos últimos dados do BC, os juros do cartão de crédito voltaram a subir em maio, passando de 215,7%, no mês anterior, para 223,3%. “Um dos problemas de a economia crescer pouco é o fato de os bancos não repassarem os ganhos da recente queda da Selic para o consumidor final. Eles estão captando recursos a juros mais baixos há bastante tempo”, lamenta.

"Se a pessoa não precisar do dinheiro, não precisa retirar. É uma aplicação que rende mais que outras modalidades de renda fixa. É uma questão básica”

Vantagens comparativas 

A mais antiga forma de investimento no país tem várias vantagens em relação aos demais tipos de aplicação, destacam os analistas. A poupança é de simples entendimento, fácil de aplicar e tem liquidez, pois pode ser sacada a qualquer momento. Contudo, é preciso ficar atento à data de aniversário mensal para não perder o rendimento do mês. Além disso, não tem a incidência do Imposto de Renda e tem a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), de até R$ 250 mil para cada CPF ou instituição.

Desde 4 de maio de 2012, o governo mudou as regras e existem dois tipos remuneração da poupança. Na velha, o rendimento é de 0,50% ao mês mais a variação da TR (Taxa Referencial) — zerada desde agosto de 2017. Essa remuneração é de 6,17% ao ano, mas somente para depósitos até 3 de maio de 2012. As aplicações posteriores a essa data entram na regra da nova poupança, que somente terá a mesma rentabilidade da velha quando a Selic ficar acima de 8,5% ao ano. Como o juro básico está abaixo desse patamar desde 8 de setembro de 2017, essa caderneta segue a regra de pagar 70% da Selic mais a TR

A pedido do Correio, Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), fez as contas comparativas de rendimento. A rentabilidade atual da poupança nova é de 4,55% ao ano, ou 0,37% ao mês. Se a Selic for para 6,25%, passaria para 4,38% anuais, ou 0,36% mensais.  E, se a Selic for para 6%, a rentabilidade mensal passaria para 0,34% e, a anual,  para 4,20%. 

Pelas contas de Oliveira, a nova poupança só perde para os fundos que cobram taxas de administração abaixo de 1%. Fundos, CDBs e Tesouro Direto têm descontos do Imposto de Renda sobre o rendimento. Ele varia de 22,5% se o resgate for em até seis meses, até 15%, para aplicações acima de dois anos. Se o prazo for acima de um ano, a taxa do IR é de 20%. E, entre 12 meses e 24 meses, de 17,5%.

“A velha poupança é uma maravilha. Mas é uma pena que ela não aceita novos depósitos”, comenta o professor de Finanças do Insper Ricardo Rocha. Ele confessa que já aproveitou essa aplicação em depósitos do espólio familiar. “Tivemos um bom rendimento”, conta.  







Com informações do Correio Brasiliense


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