Ex-presidente do Egito que cumpria pena morre após passar mal em tribunal

Eleito após queda do ditador Hosni Mubarak em 2011, dirigente da Irmandade Muçulmana foi derrubado pelos militares em 2013


O ex-presidente egípcio Mohamed Mursi morreu nesta segunda-feira pouco depois de uma audiência em um tribunal no Cairo . Segundo a TV estatal, Mursi passou mal e desmaiou durante seu julgamento. Ele chegou a ser levado para um hospital, onde faleceu. O ex-presidente cumpria uma sentença de 20 anos de prisão, sob a acusação de incitar assassinatos de manifestantes em 2012, e outra de 25 anos por espionar o Qatar.

Mursi, uma das principais figuras da Irmandade Muçulmana , foi destituído pelas forças armadas em julho de 2013 , então comandadas pelo general e atual presidente Abdel Fattah al-Sisi.  Ele havia sido eleito democraticamente após protestos em massa de 2011, que derrubaram o ditador Hosni Mubarak.

Mursi foi eleito em 2012, num dos momentos mais emblemáticos da Primavera Árabe, com 51,73% dos votos  — tornando-se, assim, o primeiro presidente civil do Egito em 60 anos. Após uma vitória apertada, Mursi prometeu liderar um governo "para todos os egípcios".  Seus críticos, no entanto, o acusaram de permitir que os islamistas monopolizassem o cenário político.

A oposição ao seu governo cresceu rapidamente e, um ano após sua posse, milhões de manifestantes anti-governo tomaram as ruas em todo o Egito. Dias depois, na noite de 3 de julho, o Exército suspendeu a Constituição e anunciou a formação de um governo interino tecnocrático antes de convocar novas eleições presidenciais. Mursi, que denunciou o golpe militar, foi levado sob custódia pelo Exército.

À época, na emblemática Praça Tahrir milhares de manifestantes comemoraram sua saída com fogos de artifício, enquanto tanques do Exército tomavam o local. Tropas militares também cercaram o palácio presidencial com arame farpado e veículos blindados ocuparam os principais pontos na capital.  A Irmandade Muçulmana foi banida do país, acusada de terrorismo.

Por ironia, o próprio Mursi nomeara Sisi como ministro da Defesa e comandante-em-chefe do Exército meses depois chegar ao poder.


Condenções

O ex-presidente havia sido condenado a um total de 45 anos de prisão por dois casos: incitação à violência contra os manifestantes no final de 2012 e espionagem a favor do Qatar. Além disso, o ex-presidente era julgado em outros dois processos após a anulação de dois veredictos contra ele: uma sentença de morte e uma à prisão perpétua.

Em 2018, um comitê inglês publicou um relatório que denunciava que Mursi era mantido em solitária durante 23 horas por dia, em condições da prisão  semelhantes à de tortura. Ele tinha um histórico de problemas de saúde, era diabético e teve problemas no fígado e nos rins. De acordo com o documento, o ex-presidente não recebia tratamento médico adequado.

Centenas de islamistas foram condenados à morte nos últimos anos, em julgamentos em massa denunciados pela ONU e organizações internacionais de direitos humanos que acusam o regime de Sisi de ser ultrarepressivo e de explorar a Justiça para reprimir a oposição.


Com: O Globo

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