A exemplo de Lula, Dilma usa velório de ex marido para fazer discurso
A ex-presidente Dilma Rousseff usou o velório do ex marido para discursar, acusando a proposta de criação do chamado distritão, prevista no projeto de reforma política em debate no Congresso, de ser uma extensão do golpe que teria sido praticado contra ela em 2016.
O discurso foi feito na cerimônia de despedida do ex-marido, o advogado trabalhista Carlos Araújo, morto na madrugada deste sábado (12), em Porto Alegre, aos 79 anos.
"O golpe é um processo, não é uma iniciativa isolada. Começou com o impeachment, continua com o impedimento da candidatura de Lula (em 2018) e pode continuar com a criação do distritão e do parlamentarismo", disse Dilma a familiares, amigos e políticos de expressão regional que compareceram ao velório.
A ex-presidente também atacou a elite do país. "Temos uma elite insensível, interessada no descontrole político e não no desenvolvimento da nação brasileira e do nosso povo", discursou, em meio a referências afetuosas ao ex-companheiro, se esquecendo que quando fala em elite, tem que se lembrar que o ex Presidente Lula teve apreendidos pela justiça em contas bancárias, a importância de 9 Milhões e 606 Mil reais, algo que um pobre se quer imagina o tamanho do montante.
Ao destacar a coerência política do ex-marido, Dilma lembrou a solidariedade de Araújo durante o período em que sofreu o processo de impeachment. "Ele estava estarrecido. Ele foi um lutador contra a ditadura [militar] e contra o poder que emana das elites econômicas, políticas e midiáticas", destacou.
Foi o único momento em a que ex-presidente Dilma falou de maneira pública, durante o velório. Araújo não resistiu a complicações pulmonares e morreu à 0h01, na UTI do Hospital São Francisco, no Complexo Hospitalar da Santa Casa de Porto Alegre.
A despedida teve início às 15h na Assembleia Legislativa gaúcha e foi aberta ao público pouco depois para que os parentes mais próximos tivessem contato reservado com o corpo do político.
Durante toda a tarde, Dilma não falou com a imprensa. Ela optou por ficar circulando entre conhecidos da capital gaúcha. A ex-presidente intercalou momentos ao lado do caixão e em um espaço restrito, com acesso ao salão Julio de Castilhos da Assembleia. Ela voltava ao saguão para receber os cumprimentos de amigos, familiares e políticos.
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Colega de ministério no governo Lula, Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul (2011-2014) pelo PT e ex-ministro da Justiça, chegou por volta das 16h50. Abraçou a ex-presidente e conversaram brevemente.
Na saída, abatido, Tarso lamentou a perda do amigo. Sublinhou o passado de luta pela democracia do político morto. "A gente está em uma idade de perder as nossas melhores referências", disse Genro.
Em nota, o governador José Ivo Sartori (PMDB-RS) afirmou que Araújo "se destacava pelo espírito democrático, se relacionando de forma fraternal e sempre respeitando posições diversas".
TRAJETÓRIA
Nascido em São Francisco de Paula, RS, em 1938, Carlos Franklin Paixão de Araújo era filho do também advogado trabalhista Afrânio Araújo, de quem herdou o gosto pelo direito e pela política.
Na década de 1950, ingressou na Juventude Comunista e integrou a delegação brasileira para o Festival da Juventude de Moscou em 1957. Anos mais tarde, integrou a organização guerrilheira VAR-Palmares, na qual em 1969 conheceu a futura mulher, Dilma Rousseff, com quem viveu até 2000 e depois seguiu como amigo.
Max, codinome pelo qual era conhecido nos tempos de luta armada, foi preso pela ditadura militar em julho de 1970, meses após a captura de Dilma. Ele deixou a cadeia em 1974, mesmo ano em que perdeu o pai e assumiu o escritório de advocacia que existe até hoje na capital gaúcha.
Na carreira política, era ligado a Leonel Brizola e foi um dos fundadores do PDT, partido pelo qual se elegeu deputado estadual por três vezes e chegou a disputar a Prefeitura de Porto Alegre, em 1988 -na época, perdeu a eleição para Olívio Dutra, que inaugurou a série de quatro gestões seguidas na cidade sob comando do PT.
Em 2000, junto com Dilma e outros correligionários, Araújo deixou o PDT e passou a se dedicar a o escritório que mantém na capital gaúcha.
Mesmo afastado da vida política, Carlos Araújo não deixou de opinar sobre assuntos políticos contemporâneos. Sobre o processo que levou ao impeachment da amiga e ex-mulher da Presidência, Araújo considerava que houve um "golpe" e que Dilma foi abandonada pelo PT.
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