Homem que acidentou e matou pai e filha que corriam, bebeu, era militar e não tinha habilitação
O pai treinava a filha para a São Silvestre no momento em que foram atropelados e mortos.
Quarta-feira, 16 de novembro de 2022
Alvaro e Jéssica Levadinha morreram na terça (15), quando veículo invadiu canteiro central de rodovia em Guarulhos. Vítimas tinham 69 e 31 anos e foram enterradas nesta quarta (16). Motorista João Carvalho, 19, é soldado do Exército. Ele foi indiciado por homicídio e preso.
O pai e a filha atropelados e mortos por um carro, na terça-feira (15), em Guarulhos, Grande São Paulo, treinavam para a Corrida de São Silvestre quando foram atingidos pelo veículo. Álvaro Gonçalves Levadinha, de 69 anos, e Jéssica Messias Levadinha, de 31, morreram na hora.
Os corpos foram enterrados nesta quarta (16) em um cemitério da cidade. Parentes e amigos que estiveram presentes na cerimônia pediam "justiça" e a punição do motorista.
"A Jéssica tem um longo currículo. Ela participou de mais de 200 [corridas] de rua e [subiu em] mais de 140 pódios e estava se preparando para a São Silvestre", disse à reportagem Wilson dos Santos, amigo da família e professor de educação física da Secretaria de Esportes de Guarulhos.
O pai de Jéssica é quem treinava a filha no momento em que foram atropelados e mortos.
O soldado do Exército João Victor Aflinis Carvalho, de 19 anos, não fugiu após o atropelamento, mas foi preso em flagrante e indiciado pela Polícia Civil por homicídio por dolo eventual, aquele no qual se assume o risco de matar. Nesta quarta, ele passou por audiência de custódia, e a Justiça converteu sua prisão em preventiva, o que significa que ele ficará detido sem prazo determinado.
Ele está preso num quartel do Exército em Osasco. João responderá a um processo criminal na Justiça comum, mas também será investigado em inquérito militar pelo fato de ser soldado do Exército.
De acordo com o boletim de ocorrência do caso, feito no 3º Distrito Policial (DP), o motorista não possui habilitação para dirigir. Além disso, segundo o documento, ele admitiu que bebeu antes de pegar o volante, o que é proibido pela lei.
Ainda há a suspeita da polícia de que o veículo que matou as vítimas, um Mitsubishi Pajero, estava acima da velocidade permitida para a via, que é de 70 km/h. O automóvel invadiu o canteiro central da Rodovia Hélio Smidit, derrubou dois postes de iluminação, atingiu pai e filha, e ainda destruiu parte do alambrado no local.
Vídeos das câmeras de segurança da via mostram os últimos momentos de Jéssica correndo. Ela aparece correndo no canteiro central. Em seguida, surge o carro que a atropelou e também atingiu seu pai. O veículo está com a frente danificada nas imagens.
Segundo o registro policial, a corredora foi lançada a 50 metros de distância do local da colisão. O pai dela foi arremessado de lado pelo impacto. Um tênis, que seria de Álvaro, ficou no gramado (veja foto abaixo).
O local do atropelamento fica próximo à entrada do Terminal 1 do Aeroporto Internacional. O caso foi atendido inicialmente pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) e pela Polícia Militar (PM).
O que dizem o soldado e sua defesa
Apesar de ter admitido aos policiais que vinha de uma festa e bebeu, João não quis passar pelo teste do bafômetro e nem cedeu sangue para o exame. Eles serviriam para confirmar se o motorista bebeu ou se consumiu alguma outra substância enquanto dirigia. A análise clínica feita por um médico não constatou nele alterações compatíveis com embriaguez.
Uma perícia também irá aferir a provável velocidade da Pajero dirigida por João no momento do atropelamento. O veículo foi apreendido.
Segundo a polícia, ele disse, que antes do atropelamento, voltava de uma festa e havia dado carona a duas amigas. Como o carro não é do soldado, a investigação ouviu o dono dele, que reclamou que o automóvel foi pego por João sem o seu consentimento, "de forma indevida, escondida, sem qualquer autorização".
Ainda, de acordo com o BO do caso, João não demonstrou "arrependimento ou qualquer sentimento de culpa" pelo que aconteceu.
Procurada para falar sobre o assunto, a defesa do militar afirmou que só irá apresentar futuramente mais detalhes sobre a versão de cliente.
"Ainda é muito prematuro para a gente poder falar sobre a tese de defesa. Não temos os laudos, não temos a perícias, então ainda é muito prematuro, nesse momento, para a gente falar de qualquer tese que vamos seguir", disse ao g1 a advogada Aline de Araújo Hirayama, que defende João.
Jéssica corria e seu pai a treinava
Jéssica era corredora de rua amadora. Nas suas redes sociais, ela mostrava a paixão pelo esporte em fotos e vídeos. Álvaro era comerciante e se considerava treinador e mentor da filha. Os dois eram inseparáveis e sempre estavam juntos nos treinos e nas corridas.
Em um vídeo publicado em uma rede social, o pai aparece comemorando o desempenho da filha durante um treino.
"Eu conheci a Jéssica há muitos anos. Quando ela tinha 14 anos, veio um pedido formal do seu pai, e sentimental também, para que fosse liberada a sua inscrição para uma prova de corrida de rua em Guarulhos. E como a Jéssica já treinava com seu pai desde os 10, 11 anos, nós abrimos uma exceção para que ela participasse da prova. E surpreendentemente, ela participou da prova e subiu ao pódio", lembrou Wilson Santos, atleta e amigo da família.
"Minha sobrinha tinha uma vida ainda pela frente. Nova, conquistando as medalhas dela. O que eu tenho para falar dela é isso. Meu coração está partido", afirmou uma tia de Jéssica.
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