Candidato paga R$ 50 mil para professor de cursinho fazer prova no lugar dele para tentar vaga com salário de R$ 5,6 mil
Terça-feira, 22 de fevereiro de 2022
O candidato preso suspeito de contratar um professor de cursinho para fazer a prova do concurso da Segurança Pública, no lugar dele, nesse domingo (20), teria pago R$ 50 mil para tentar a vaga de investigador da polícia.
A informação do valor pagou consta no boletim de ocorrência da Polícia Civil.
Segundo a lista de relação de inscritos do concurso, o suspeito tentava a vaga de investigador da polícia pela ampla concorrência. De acordo com o edital, a vaga tem salário inicial de R$ 5.657,47.
Ou seja, para pagar o valor acordado com o professor, precisaria de pelo menos nove meses de remuneração.
Segundo o boletim de ocorrência, o professor de cursinho confirmou que estaria fazendo a prova no lugar do outro pois ele era 'ruim de redação'.
Além do candidato a investigador e do professor, outros dois alunos foram presos suspeitos de envolvimento na tentativa de fraude. Eles também seriam beneficiados.
O concurso foi realizado em oito municípios do estado.
De acordo com as informações da Polícia Civil, a equipe foi até um dos locais de provas após receber uma denúncia de que um candidato teria contratado uma pessoa para fazer a prova no lugar dele.
Ao chegar no endereço, constatou que a pessoa que estava fazendo o exame tinha características físicas totalmente diferentes do candidato do concurso.
A pessoa que estava no lugar do candidato foi retirada da sala pela coordenação do concurso e levada para outro ambiente da escola, onde confessou aos policiais que faria a prova em lugar de outro, como um favor.
Esta pessoa se identificou como agente penitenciário e professor de cursinho. Ele também relatou que o candidato faria a prova em outra sala, utilizando os documentos dele, ou seja, se passando pelo professor do cursinho.
Os policiais civis identificaram o segundo suspeito em outro local e com ele foi localizado um documento em nome do agente penitenciário.
Ao encaminhá-lo para a viatura, os investigadores notaram um volume na sua cintura. Questionado pelos policiais, ele confessou ser um celular, que estava envolto em material com silicone para tentar dissimular o sinal e a fiscalização.
Disse ainda que pelo celular, o falso o professor, que faria a prova em outro local, passaria as respostas da prova a mais dois alunos.
Estes dois foram localizados pela equipe policial e conduzidos à Delegacia de Cáceres.
Com eles também foram encontrados aparelhos celulares escondidos em uma caixa de silicone, como tentativa de burlar a fiscalização.
Conforme declarações dos suspeitos, eles haviam combinado sinais para o recebimento das respostas da prova.
A ação policial identificou todos os envolvidos, que foram excluídos do concurso público.
Irregularidades no concurso
O Ministério Público Estadual (MPE) informou que recebeu por meio da ouvidoria cerca de 30 denúncias de irregularidades durante a aplicação da prova do concurso da Segurança Pública.
Entre os supostos erros apontados, segundo o MP, estão a ausência de detectores de metal, celular vibrando em sala de aula e pessoas tirando fotos no local da prova.
A Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) informou que não recebeu qualquer denúncia formalizada e as denúncias de fraude no dia da realização do concurso foram amplamente investigadas pelo núcleo de inteligência da Polícia Civil, com resposta rápida, resultando na prisão ocorrida em Cáceres, no domingo.
A Sesp esclareceu ainda que embora seja responsável pela realização do concurso, contratou a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) para a execução do mesmo, incluindo a realização da prova. Sendo assim, os questionamentos devem ser feitos a mesma.
O g1 entrou em contato com a UFMT, mas não obteve retorno até esta publicação.
O MP informou que as denúncias serão encaminhadas para análise do Núcleo de Promotorias da Cidadania.
O concurso
As provas do concurso público das forças de segurança de Mato Grosso foram realizadas nesse domingo (20). Ao todo, 66 mil pessoas estavam inscritas.
O concurso, que foi prometido pelo estado desde 2016, foi realizado para formação de cadastro de reserva. Entretanto, o governo promete chamar 1.200 classificados ainda em 2022.
Os cargos de escrivão e investigador da Polícia Civil foram os mais procurados pelos “concurseiros”. Dos 66 mil inscritos, foram quase 34 mil somente na instituição. As provas estão sob responsabilidade da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
DigoresteNews/G1
Nenhum comentário