Você sabia que o time do Defensa y Justicia já jogou com o uniforme do Flamengo?

Em tempos ainda mais modestos, o clube argentino disputava a 4ª divisão local, ficou sem seu uniforme e precisou improvisar com as cores rubro-negras


 Sábado, 05 de Junho de 2021 

Dia 10 de novembro de 1984. Em uma loja esportiva no centro comercial da cidade de Florêncio Varela, região metropolitana de Buenos Aires, entram dois dirigentes de futebol desesperados. O Defensa y Justicia, time da cidade, jogará em poucas horas uma partida decisiva para se classificar ao octogonal final da quarta divisão argentina, mas suas tradicionais camisas não podem ser usadas, pois estão molhadas.

Os dirigentes precisam de dois jogos completos de camisas. Os únicos na loja são de camisas listradas horizontalmente em vermelho e preto, nada a ver com o verde e amarelo usado tradicionalmente pelo Defensa. Além de tudo, as camisas já estão reservadas para um cliente. Na pressa, e pela necessidade maior, os cartolas conseguem comprar os uniformes.

Foi assim que, por um dia, o Defensa y Justicia jogou de Flamengo. E deu sorte. A vitória por 3 a 1 sobre o Flandria classificou a modesta equipe para a fase final do torneio. As camisas rubro-negras viraram sinônimo de sorte.

- Os dirigentes guardaram as camisas, e elas viraram uma espécie de talismãs. Foi algo fortuito, uma casualidade. Quando eles foram buscar um uniforme no comércio, as camisas já estavam vendidas para outro cliente. Acabou ficando como uma grande recordação – contou o historiador do Defensa y Justicia, Ruben Arias.


O fim da sorte

Como bom talismã, as camisas rubro-negras do Defensa y Justicia foram guardadas para ser utilizadas em outro momento de necessidade. Mas acabou não funcionando.

Classificado para o octogonal final, o Defensa y Justicia foi avançado de fase, com vitórias sobre o Defensores Unidos e o Colegiales. Na final, decidiria a subida para a terceira divisão contra o Villa Dálmine.

Na partida de ida, com a camisa tradicional, o Defensa foi derrotado por 2 a 1. Na volta, resolveu apelar. Precisando da vitória, voltou a utilizar as camisas rubro-negras. Um episódio antes do jogo deu ainda mais confiança aos supersticiosos do clube: o ônibus que levava o elenco quebrou a caminho do estádio, e os jogadores precisaram completar o trajeto em carros normais.

Desta vez, porém, a superstição não funcionou. O Defensa perdeu por 1 a 0 para o Villa Dálmine e permaneceu na quarta divisão.


A última homenagem

Mas as camisas rubro-negras não perderam a moral. Em 1985, o Defensa fez campanha ainda melhor. O modesto clube, que só havia se registrado junto à AFA (Associação de Futebol da Argentina) em 1977, passou facilmente pelos adversários e chegou à última rodada já campeão e com a promoção garantida para a terceira divisão.

No jogo de despedida da temporada, os dirigentes resolveram usar novamente as camisas rubro-negras. Na vitória por 5 a 0 sobre o DockSud, o time usou suas cores tradicionais no primeiro tempo. No segundo tempo, se vestiu de vermelho e preto. Foi a despedida do uniforme à la Flamengo, que não voltaria a ser usado pelo Defensa.

As camisas, outrora talismãs guardados com esmero, se perderam na história de um clube ainda modesto, que só recentemente conseguiu destaque a níveis nacional e internacional. Em 2019, foi vice-campeão argentino. Em 2020, campeão da Copa Sul-Americana. Em 2021, derrotou o Palmeiras e foi campeão da Recopa Sul-Americana.

Quis o destino que, 36 anos depois, o Defensa fizesse seu primeiro jogo contra o Flamengo verdadeiro. As equipes irão se enfrentar nas oitavas de final da Libertadores, em julho, na segunda participação do ainda modesto clube argentino na principal competição sul-americana.

Uma coisa é certa: desta vez, mesmo que precise, o Defensa não poderá recorrer às suas camisas da sorte. Do outro lado, haverá outro time vestido de vermelho e preto.







Digoreste News com GE

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