"Destruindo famílias" - O bancário, que aos 35 anos, sem comorbidades, tombou diante da Covid
Ele não sabia sequer o que era uma dor de cabeça, conta a viúva do jovem que tomava todas precauções, mas foi infectado e morreu
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Gabriel, a esposa Ana Claudia e as filhas do casal em imagem feita no Dia dos Pais deste ano |
Sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
As imagens do Dia dos Pais de 2020 são os últimos registros em família que a tosadora Ana Cláudia de Almeida, de 33 anos, guarda do marido. Nas fotos, o bancário Gabriel Becker, de 35 anos, aparece ao lado da esposa e das duas filhas do casal.
"Foi um dia especial. Fizemos um churrasco em casa e tiramos muitas fotos para registrar o momento. Estávamos felizes porque era o primeiro Dia dos Pais desde o nascimento da nossa caçula", relembra Ana Cláudia.
As fotos se tornaram os últimos registros em família. Meses depois, ela perdeu o marido em decorrência da covid-19. "A nossa vida se tornou um pesadelo desde que ele ficou doente", lamenta a viúva.
Ana Cláudia comenta que não sabe como Gabriel contraiu o coronavírus. "Tomamos todos os cuidados possíveis desde o início da pandemia, mas ainda assim ele pegou. Estávamos sem ver amigos, ele estava em home office, sempre usávamos álcool em gel quando necessário… O máximo que ele fazia era ir ao mercado", conta.
Somente o marido dela apresentou sintomas. "Acreditamos que mais ninguém aqui em casa tenha pegado", diz.
Ela relata que Gabriel não tinha doenças pré-existentes e era adepto de hábitos considerados saudáveis.
"Sempre fomos preocupados com a alimentação. Achávamos que, se ele pegasse, teria um quadro leve. Nunca imaginei que o quadro dele pudesse ser tão grave", conta Ana.
Os sintomas tiveram início em meados de novembro, quando Gabriel teve febre constante e dores no corpo. Em razão da suspeita de covid-19, ele se isolou no quarto da filha mais velha. A situação piorou. Por volta de 25 de novembro, o bancário teve de ser internado em um hospital de Curitiba, cidade em que morava com a família. Um exame confirmou que ele havia sido infectado pelo novo coronavírus.
Gabriel não apresentou melhoras após a internação e foi levado para a UTI.
"Ele não queria que o intubassem e ficou uns cinco dias acreditando que pudesse melhorar. Mas não teve jeito e precisou ser intubado no começo de dezembro", relata a viúva.
Foto da família em dezembro de 2019 está na sala de casa -viúva afirma que a imagem é uma forma de as filhas não se esquecerem do pai
Em nove de dezembro, ele teve quatro paradas cardíacas e não resistiu.
"Ainda não acredito que o meu marido morreu. Às vezes me pego pensando que ele vai voltar, mas percebo que não vai. É muito estranho", desabafa Ana Cláudia, que estava junto com Gabriel havia quase 15 anos.
Desde a morte do marido, ela afirma que o seu maior desejo é conseguir proporcionar as melhores condições para as filhas, de 12 anos e outra de um ano.
"Quero fazer de tudo para dar o melhor para elas. Quero tentar o máximo possível para que elas tenham o melhor, como eu e o meu marido sempre planejamos", comenta.
Para que as filhas não se esqueçam do pai, Ana Cláudia deixou uma foto da família na sala de casa. Na imagem, Gabriel, a esposa e as filhas aparecem ao lado de um Papai Noel, em dezembro de 2019.
"Quero lembrar sempre dele e que a minha filha mais nova saiba quem foi o pai dela", diz Ana Cláudia.
A viúva acredita que o marido gostaria que ela contasse a história dele como forma de alerta sobre os riscos do novo coronavírus.
"Ele sempre achou importante avisar e orientar as pessoas de que a covid-19 é uma doença que realmente mata. Não é brincadeira. Todos precisam se cuidar, porque não são somente os idosos ou pessoas com comorbidades que morrem. É preciso se cuidar e cuidar do próximo", ressalta.
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