Alemanha recomenda que vacina de Oxford e AstraZeneca não seja aplicada em idosos

Comitê de vacinas alemão sugeriu que imunizante seja usado apenas em pessoas com idade entre 18 e 64 anos


 Quinta-feira, 28 de janeiro de 2021 

O comitê de vacinas da Alemanha informou nesta quinta-feira, 28, que a vacina contra covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford e a AstraZeneca não será aplicada em idosos com 65 anos ou mais. A recomendação foi feita às vésperas de o órgão regulador da Europa julgar se a vacina poderá ser usada nos países do bloco. Já o governo britânico discordou e diz que o imunizante é eficaz para todas as faixas etárias.

A vacina de Oxford e da AstraZeneca ainda não tem dados suficientes sobre a eficácia em pessoas com mais de 65 anos. Não significa, porém, que seja ineficaz. Há comprovação científica sobre sua segurança e também que produz resposta imune para todas as faixas etárias. A vacina já foi liberada para uso em mais de 17 países, como Reino Unido e Brasil, sem contraindicações dos órgãos reguladores. 

O Ministério Público Federal (MPF) pediu esta semana informações à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) sobre a eficácia do imunizante em idosos. Ao Estadão, a agência disse por meio de nota que “não há incertezas ou questionamentos sobre a segurança das vacinas autorizadas neste momento no País”. 

Ainda conforme a agência, “os dados de segurança foram considerados satisfatórios até o momento”. “Estes dados serão aprimorados com o seguimento dos estudos em andamento e o monitoramento de eventos adversos durante o período de vacinação no Brasil.” Além disso, o órgão informou que o número de idosos participantes dos estudos “não foi considerado estatisticamente relevante para definir a eficácia neste grupo etário”. 

Isso acontece porque a população idosa é a última a receber o teste do imunizante. E o processo com essa parte da população é mais demorado, porque também, de uma maneira geral, estão menos expostos ao vírus, muitos estão isolados em suas casas. No Brasil, por exemplo, os testes da vacina de Oxford começaram em junho. As pessoas com mais de 65 anos só começaram a participar do teste em outubro. Ou seja, vai demorar mais tempo para existir dados sobre essa faixa etária.

A AstraZeneca publicou em novembro na revista científica The Lancet dados demonstrando que adultos mais velhos mostraram fortes respostas imunológicas à vacina, com 100% dos adultos mais velhos gerando anticorpos específicos após a segunda dose.

A Universidade de Oxford destacou informações publicadas no relatório oficial da agência regulatória do Reino Unido, MHRA, para falar sobre a eficácia da vacina. “As informações disponíveis sobre a eficácia em participantes com 65 anos ou mais são limitadas, embora não haja nada que sugira falta de proteção”. E enfatiza que “mais uma vez ressaltamos que não houve casos de hospitalização e doença grave em qualquer grupo etário, reafirmando a eficácia de 100% para doença grave e hospitalização”. 

Mellanie Fontes-Dutra, bioquímica, doutora em Neurociências pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e coordenadora da Rede Análise Covid-19, comenta o diferente cenário que existe entre o comitê de vacina da Alemanha com o do Brasil. “Lá (na Alemanha) já tem autorização para as vacinas da Pfizer e Moderna, com resultados mais contundentes para pessoas acima de 65 anos. Nessa situação, eles podem usar esses dois imunizantes para aplicar nos mais velhos e utilizar a vacina da AstraZeneca nos mais jovens”, afirma. 

O Brasil, com aval para uso emergencial somente da vacina de Oxford e da Coronavac, não tem essa alternativa. “Não sabemos quando teremos mais vacinas e temos de trabalhar com a nossa realidade.” No caso da vacina do Instituto Butantan, também não foi possível determinar a eficácia por faixa etária, principalmente em idosos. 

“Apesar de poucos dados em idosos, porque a amostra é pequena, não significa que seja ineficaz. A segurança da vacina já está estabelecida. A resposta imune em idosos acima de 65 anos também é muito boa”, pondera. “Ao colocar na balança o risco em ter a doença, o risco até de morrer, fica claro porque a Anvisa não optou por contraindicar. Fez somente a ressalva de que precisa levantar mais dados. Os benefícios, no entanto, superam qualquer risco.


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