Sobrinho de Bolsonaro ganha novo cargo no gabinete de Senador que ficava com salário de assessores
A nomeação ocorre semanas depois de Léo Índio desligar-se do gabinete de Chico Rodrigues, flagrado com dinheiro na cueca
Terça-feira, 03 de Novembro de 2020
Primo dos filhos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Leonardo Rodrigues de Jesus, o Léo Índio, foi nomeado assessor parlamentar da Primeira Secretaria do Senado, comandada por Sérgio Petecão (PSD-AC). A nomeação foi publicada na edição de hoje (03) do Diário Oficial da União e ocorre semanas depois de Leo Índio desligar-se do gabinete de Chico Rodrigues (DEM-RR), após o senador ser flagrado com dinheiro na cueca em uma ação da Polícia Federal.
Ele desempenhava a função de assessor parlamentar desde o ano passado. Segundo apurado, dois aspectos levaram Índio a abrir mão do cargo, com salário de R$ 23 mil mensais: constrangimento e pressão da família. O ex-assessor teria sido orientado por auxiliares de Bolsonaro a pedir exoneração e permanecer em silêncio, fora dos holofotes, para que sua imagem não fosse ainda mais atrelada ao escândalo do senador —de modo a prejudicar o presidente.
Léo Índio é filho de uma irmã de Rogéria Nantes, primeira mulher do presidente. Morou um período com o primo Carlos Bolsonaro e atuou como assessor informal dele na Câmara Municipal do Rio até ser alocado no gabinete de Rodrigues. Tornou-se tornou uma figura pública após a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 devido às redes sociais. Ele costumava aparecer constantemente em fotos ao lado de Carlos. Com a ascensão de Bolsonaro à Presidência, Léo Índio passou a frequentar os corredores do Palácio do Planalto, ainda que não tivesse um cargo. Somente nos primeiros 45 dias de mandato do presidente, ele esteve no Planalto 45 vezes. Além disso, chegou a viajar na comitiva oficial que se deslocou a Brumadinho, em Minas Gerais, à época da tragédia do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão (janeiro de 2019). Em 2019, depois de questionamentos a respeito de sua função no governo, Léo Índio foi nomeado para o gabinete de Rodrigues.
Senador contratava assessores que nem sabiam, e recebiam uma micharia
Em 2017, a ex-procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) denúncia contra o senador Sérgio Petecão (PSD-AC). Ele foi acusado de desvio de dinheiro, de forma contínua e sistemática, de recursos públicos destinados ao pagamento de salário de assessores parlamentares vinculados ao seu gabinete quando era presidente da Assembleia Legislativa do Acre, entre 1999 e 2007.
De acordo com Dodge, as investigações da Polícia Federal (PF) apontaram que pessoas simples, que mantinham vínculos de natureza particular com o parlamentar, eram contratadas como secretários parlamentares, mas não exerciam as atividades do cargo.
“Nos autos do inquérito constaram que 14 funcionários disseram não trabalhar para a Casa e que chegavam a receber R$ 100 por mês, em espécie. Muitos alegaram não saber do vínculo com a Assembleia. Em vez de receberem o salário equivalente, recebiam valores bem inferiores, em alguns casos R$ 100 por mês, sempre pagos em espécie no próprio gabinete do então deputado estadual. Muitos trabalhavam como cabos eleitorais, organizando atividades como bingos e torneios de futebol”, disse Raquel.
A investigação contra o senador acreano teve início a partir de um processo trabalhista onde um ex-assessor de Petecão, embora contratado pela Aleac, confirmou que somente prestava serviço de natureza particular.
“Em seu depoimento nos autos do inquérito, Juliano Rodrigues de Arado Matos deixou claro que trabalhava no interesse particular ou eleitoral do primeiro denunciado e de sua família; recebia uma quantia bem aquém do salário de assessor parlamentar; e não tinha conhecimento, à época em que prestava a atividade laboral, que era funcionário da Assembleia Legislativa do Estado do Acre”, pontuou Raquel.
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