Haitianos pedem indenização da ONU por estupros na época em que general Heleno comandava forças de paz

 Heleno é atualmente o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional do governo de Jair Bolsonaro.


  Segunda-feira, 12 de Outubro de 2020  

"A organização Plataforma Haitiana de Desenvolvimento Alternativo publicou documento no qual exige que a entidade global se responsabilize pela violência contra as mulheres, e também por trazer surto de cólera ao país"

Diversas organizações sociais do Haiti, reunidas na Plataforma Haitiana de Desenvolvimento Alternativo, divulgaram um documento nesta sexta-feira (9), pelo qual exigem que a ONU (Organização das Nações Unidas) se responsabilize pelos mais de 3 mil casos de estupros (cerca de 300 deles envolvendo crianças) registrados no país durante a presença da MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), entre os anos de 2004 e 2017.

O documento também acusa as missões de paz da ONU de introduzir o surto de cólera no país, naquele mesmo período, através de soldados de países sul-americanos (incluindo o Brasil), que formaram parte daquelas missões. Se estima que mais de um milhão de pessoas sofreram com a doença durante o período, e mais de 10 mil delas morreram.

As organizações pedem uma indenização da ONU às famílias afetadas, e um reconhecimento formal por parte da entidade de sua responsabilidade nos acontecimentos citados.

Entre outubro de 2004 e setembro de 2005, a Missão da ONU no Haiti foi comandada pelo então general Augusto Heleno, hoje na reserva, e exercendo o cargo de ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional do governo de Jair Bolsonaro.

Entre as polêmicas envolvendo a passagem de Heleno pelo Haiti está a o fato de que liderou uma operação chamada “Punho de Ferro”, na qual soldados teriam entrado atirando indiscriminadamente no bairro de Cité Soleil, em Porto Príncipe, o que terminou com a morte de ao menos 70 pessoas, incluindo mulheres e crianças – embora o relatório oficial sobre a operação fale em apenas 6 falecidos, contrastando com uma investigação jornalística da agência de notícias Reuters, baseada em relatórios da ONU e cabos diplomáticos dos Estados Unidos revelados pelo WikiLeaks, que concordam com a cifra de vítimas acima de 70, e que consideraram o evento como um “massacre”.

Na época, em audiência na Câmara dos Deputados, o general Heleno justificou a ação na favela haitiana dizendo que “não tenho dúvida que diante da atitude das gangues de utilizarem mulheres e crianças como escudos para se protegerem, podem ter acontecido efeitos colaterais (morte de civis). Mas se aconteceram, foram mínimos”.


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