Mortes por covid-19 disparam e ministros de Bolsonaro somem das entrevistas

Antes do atual ministro assumir, haviam coletivas todos os dias, o que hoje não se vê mais


A curva de mortes por covid-19 acelerou nas últimas semanas no Brasil. Foram mais de 30.000 óbitos nos últimos 30 dias. Nesse mesmo período os ministros de Estado desapareceram das entrevistas diárias do governo sobre a pandemia.

É uma atitude diferente do que se vê em alguns outros países, quando os governantes estavam diariamente na TV nos momentos mais dramáticos do surto do novo coronavírus.

Nos EUA, tanto presidente Donald Trump como governadores de Estados mais afetados, como Andrew Cuomo em Nova York, participaram de inúmeras entrevistas à imprensa para dizer o que se passava e quais providências eram tomadas. No Brasil, no Estado de São Paulo (o mais impactado), o governador João Doria (PSDB) adota a mesma estratégia.

No governo federal, as entrevistas passaram a ser com representantes de 2º ou 3º escalão. O atual ministro interino, general Eduardo Pazuello, participava desses eventos enquanto era secretário-executivo do Ministério da Saúde, mas não fala à mídia nesses encontros desde que assumiu a pasta, em 16 de maio.

Já houve ocasiões em que vários ministros participavam, inclusive o titular da Economia, Paulo Guedes. Isso não acontece mais. Os ministros do governo de Jair Bolsonaro têm sido expostos cada vez menos a questionamentos sobre o coronavírus e seus efeitos no país. No começo de abril, era comum nas entrevistas promovidas pelo Palácio do Planalto mais de 1 ministro estar presente ao mesmo tempo, em horário próximo ao da divulgação do número de mortos confirmados pela covid-19.

Há cerca de 3 semanas, porém, apenas técnicos dos ministérios têm falado. As entrevistas –do tipo conhecido no jargão como “coletivas”, para mais de 1 jornalista ao mesmo tempo– sobre a covid-19 foram centralizadas no Palácio do Planalto em 30 de março.

Antes, o então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta concedia entrevistas diariamente na sede de sua pasta. Ganhava protagonismo. Quando inaugurou as falas sobre o assunto no Planalto, o ministro Walter Braga Netto (Casa Civil), responsável pela alteração, disse o seguinte:

“A questão do coronavírus, devido à sua complexidade, é transversal. Abrange não apenas o esforço do Ministério da Saúde, mas também o esforço de todos os ministérios envolvidos no governo federal. A partir de hoje (30.mar.2020), esse será o novo formato da coletiva, sempre com a participação de mais de 1 ministério, para que possa trazer esclarecimento a toda a população brasileira do esforço que está sendo feito pelo governo”, declarou Braga Netto.

Quando comparece a uma entrevista desse tipo, o ministro fica exposto a questionamentos sobre as mortes causadas pelo coronavírus e seus efeitos na sociedade brasileira. Ao ter a própria imagem transmitida enquanto fala de assunto negativo, pode ficar, na cabeça do expectador, associado à crise do coronavírus.

O tema é desconfortável ao governo. O presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que “acabou matéria no Jornal Nacional” quando a divulgação dos dados de mortos e infectados passou para as 22h.

Braga Netto, que coordena o comitê de crise da pandemia, é quem mais apareceu nessas entrevistas: 14 vezes. Em 2º e 3º vêm os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta (9 vezes) e Nelson Teich (7 vezes), respectivamente. Empatado na 2ª colocação com Mandetta está Onyx Lorenzoni (Cidadania).

Atual ministro interino, Eduardo Pazuello participou dessas entrevistas quando ainda era secretário-executivo de Nelson Teich. Depois de assumir a pasta, não mais compareceu –como mostra sua agenda pública.

Pazuello respondeu a perguntas de deputados na Câmara em 9 de junho. Naquele dia, também falou com jornalistas.


Pazuello e os congressistas

O ministro interino tem menos interações com jornalistas do que os antecessores, mas tem tido contato frequente com congressistas. Em 30 dias no cargo, recebeu 15 deputados do Centrão e do PSL, partido pelo qual o presidente Jair Bolsonaro se elegeu.

A maior parte dos deputados recebidos é do baixo clero –políticos sem maior expressão no Congresso. O mais assíduo foi Hiran Gonçalves (PP-RR), que encontrou Pazuello 5 vezes.

Gonçalves disse que ele e o ministro se conhecem desde quando eram crianças, em Manaus. Assim, entre os partidos, o PP foi o mais prestigiado, seguido do PSL e do DEM.

O antecessor de Pazuello, Nelson Teich, recebeu apenas 4 deputados nos 29 dias em que esteve à frente do Ministério da Saúde. Não manteve audiência com senadores.



Digoreste News / MSN / Poder 360

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