Bolsonaro é "Maior ameaça à luta à covid-19 no país, diz revista científica de médicos

  Revista Lancet  


Editorial da próxima edição da revista científica The Lancet, uma das mais importantes na área médica do mundo, classifica o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como "a maior ameaça à resposta do Brasil à covid-19". 

A publicação sugere que ele mude sua conduta ou seja "o próximo a sair". Em texto da edição de 9 de maio, já disponível para assinantes, a revista editada no Reino Unido destaca que o Brasil é o país com mais infecções e mortes pela doença (125.218 casos e 8536 mortes) na América Latina e diz que esses números são "provavelmente substancialmente subestimados"

A revista ainda prevê piora do cenário nos próximos dias e relembra que recente estudo do Imperial College, de Londres, apontou que o Brasil é o país com o mais alto índice de transmissão de covid-19 no mundo (2,81, ou seja, cada infectado transmite a doença para mais três pessoas) e que a epidemia, antes restrita às maiores cidades do país, se alastra pelo interior, sem leitos de UTI e com poucos respiradores.

A revista cita ainda o episódio da semana passada quando o presidente foi questionado por jornalistas sobre o rápido crescimento das mortes pela doença e respondeu: "e daí? Lamento quer que eu faça o quê?". 

"Ele não apenas continua a semear confusão ao abertamente desencorajar as medidas de distanciamento social e quarentena determinadas por governadores estaduais e prefeitos, mas também perdeu dois importantes e influentes ministros nas últimas três semanas". 

Segundo a publicação, as saídas de Luiz Henrique Mandetta (DEM) da Saúde e de Sergio Moro da Justiça "são desarranjos no coração da administração no meio de uma emergência de saúde pública e são também sinais claros de que a liderança brasileira perdeu seu compasso moral, se é que um dia teve". 

O editorial cita também as péssimas condições sanitárias das favelas e as invasões perpetradas por madeireiros, fazendeiros e garimpeiros em território indígena, cuja população já vivia ameaçada antes da pandemia e que agora tem a doença trazida pelos invasores. 

A publicação cita a carta aberta liderada pelo fotógrafo Sebastião Salgado que chamou a situação de "genocídio em andamento". A revista fala também dos chamados por união emitidos pela comunidade científica e pela sociedade civil e destaca os panelaços contra Bolsonaro, a imagem desses protestos ilustra o editorial. 

A publicação elogiou e chamou de "ações esperançosas" o esforço de cientistas brasileiros que têm publicado artigos de ciência básica e epidemiologia e destacou que houve uma rápida produção de equipamentos de proteção individual, respiradores e testes. 

The Lancet, adverte, contudo, ao final do editorial que "a liderança no mais alto nível de governo é crucial para rapidamente reverter o pior resultado dessa pandemia" e relembrou artigo de 2009 publicado sobre o sistema de saúde brasileiro na qual analisou que a manutenção do SUS depende de engajamento de toda a população brasileira. 

"O Brasil, como um país, deve se unir e dar uma clara resposta ao ´e daí?' dito por seu presidente. Ele precisa drasticamente mudar de rumo ou deve ser o próximo a sair

Nenhum comentário