Comissão conclui que polícia chinesa errou ao advertir médico que alertou sobre epidemia.

Médico alertou os colegas no início da epidemia tentando impedir a desgraça que tomou conta do mundo, foi punido e morreu infectado. 


Uma comissão de investigação oficial chinesa censurou hoje a polícia de Wuhan, a cidade onde surgiu o novo coronavírus, por ter advertido um médico que havia alertado sobre o início da epidemia e cuja morte provocou a revolta da população. O médico Li Wenliang é considerado um herói nacional por ter alertado os colegas no início da epidemia, enquanto as autoridades tentavam ocultar de alguma maneira a realidade.

A morte do oftalmologista de 34 anos provocou uma onda de indignação popular no início de fevereiro, o que levou as autoridades a ordenar uma investigação. Por ter feito o alerta, o doutor Li Wenliang foi convocado pela polícia, que o advertiu por divulgação de boatos na internet. 

No início de janeiro, Li foi obrigado a assinar uma autocrítica na qual prometia não cometer mais "atos contrários à lei". A polícia atuou de forma "inapropriada", afirmou a Comissão de Controle da Disciplina, que pede a "revogação" da advertência e que as autoridades "estabeleçam as responsabilidades" das pessoas envolvidas no caso. 

Em janeiro, o Tribunal Supremo já havia reabilitado o doutor Li e outras pessoas que assinaram um artigo de alerta publicado na imprensa. 

Os primeiros casos de novo coronavírus foram registrados na cidade de Wuhan, capital da província de Hubei (centro), no início de dezembro, mas os habitantes foram obrigados a usar máscaras em meados de janeiro, pouco antes da determinação de quarentena da localidade. 


Li Wenliang, morreu dia 7 de fevereiro infectado pelo coronavírus que lutou contra e advertiu sendo punido por tentar impedir a desgraça que tomou conta do mundo. 


Alerta aos colegas

Em 30 de dezembro, o médico enviou uma mensagem para colegas alertando sobre um possível surto de doença respiratória com sintomas semelhantes aos da Síndrome Respiratória Aguda Grave, (SARs-CoV), que matou mais de 700 pessoas no início dos anos 2000.

O doutor Li Wenliang recomendou aos companheiros de trabalho que usassem equipamentos de segurança para evitar a infecção. O médico fez o alerta após perceber que, naquele fim de ano, o hospital no qual trabalhava já tinha recebido sete casos de infecção com sintomas graves.

Junto com os colegas, ele foi convocado pela polícia e foi forçado a assinar uma carta na qual prometiam não divulgar informações sobre a doença.


Infectado durante consulta

Acredita-se que o médico tenha sido contaminado no início do ano enquanto tratava uma paciente infectada. Li Wenliang contou, em seu perfil de uma rede social, que em 10 de janeiro começou a tossir, no dia seguinte passou a ter febre e, dois dias depois, foi para o hospital. Seus pais também ficaram doentes e foram internados.

O médico contou que os primeiros exames deram negativo para coronavírus. Mas, em 30 de janeiro, ele postou novamente dizendo que um teste mais específico identificou o vírus: "Hoje, o teste de ácido nucleico voltou com um resultado positivo. A poeira baixou, finalmente fui diagnosticado".

No fim de janeiro, o médico publicou em uma rede social chinesa um pedido de desculpas do governo chinês, que admitiu falha na resposta à epidemia do novo coronavírus.

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