A hegemonia do etanol

   ARTIGO   


  MARINO FRANZ*  

  Cuiabá, 03 de Fevereiro de 2020  

A indústria sucroalcooleira vive um momento único, de infinitas oportunidades, com cenário positivo para investimento, demanda global crescente e aumento significativo do consumo interno. Soma-se a esse cenário o RenovaBio, política nacional de incentivo específica para o mercado de biocombustíveis. Com ele, os produtores que adotarem as boas práticas receberão uma espécie de pagamento pelos serviços ambientais.

O consumo interno de etanol continua crescendo, mesmo com a alta nos preços registrada neste início de ano. Abastecer com etanol continua vantajoso perante a gasolina e, de forma cada vez mais rápida, o brasileiro escolhe o produto, porque além de suas vantagens econômicas está considerando os impactos ambientais positivos do biocombustível. O consumo de etanol foi se fortalecendo e consolidando ao longo do último ano atingindo um volume de venda recorde em 2019.

No mercado o externo, o interesse e a procura pelo etanol também só cresce a cada dia com a tendência mundial por fontes renováveis de combustíveis. Os países precisam encontrar meios de reduzir suas emissões de carbono, diminuindo os impactos da emissão de gases do efeito estufa, e o Brasil é considerado o exemplo a ser seguido neste quesito. Países como Estados Unidos, Índia e China atuam para aumentar a quantidade de etanol na gasolina.

A Índia, por exemplo, quer aumentar para 10% a quantidade de etanol em sua gasolina até 2022. Hoje, a mistura não chega a 7% e o país de 1,3 bilhão de habitantes quer aproveitar o conhecimento brasileiro para cumprir a missão. Nos Estados Unidos a mistura é de 10%, mesmo percentual que a China pretende chegar também nos próximos dois anos. Já o Brasil é exemplo de que é possível ter uma gasolina mais limpa e eficiente, o país possui o maior percentual de mistura registrado no mundo, com 27% de etanol adicionados a gasolina desde o ano de 2015. Esta mistura não afetou o desempenho nem mesmo dos carros importados.

O Brasil é o segundo maior produtor de etanol do mundo, atrás apenas dos americanos. As projeções são de que o país deve produzir 30,4 bilhões de litros de etanol, neste ano, e chegar a 37,2 bilhões em 2028. O uso do etanol como combustível em larga escala, no entanto, ainda ocorre basicamente nesses dois países.

Mas, o governo federal está trabalhando para mudar este cenário e transformar o etanol em uma commodity mundial. Para isso, missões diplomáticas/comerciais estão sendo empreendidas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento por vários países. Atualmente, o Ministério contabiliza cerca de 60 países que possuem ou estudam algum programa para incorporar o etanol em sua matriz energética.

Para Mato Grosso, o cenário não poderia ser melhor. Somos o segundo maior produtor de etanol no Brasil. Impulsionado pelo etanol de milho, a projeção é que, em dois anos, o estado chegue à produção de 5 bilhões de litros do biocombustível por ano. Este crescimento faz o setor acreditar que poderemos nos tornar a maior região produtora do bicombustível no mundo.

Atualmente, o Estado conta com 12 unidades produtoras de etanol, sendo sete exclusivamente de cana, três flex (cana e milho) e duas de milho. Até o próximo ano, serão mais quatro unidades produtoras do biocombustível através do milho. O setor gera 10 mil empregos diretos, empregos estes considerados de alta qualidade e com excelentes remunerações.

Com o cenário de aumento da produção, do consumo e dos investimentos, a hegemonia do etanol é indiscutível. Desde o final da década de 1970, quando o Proálcool foi lançado, nunca houve uma referência que indicasse a direção da produção de biocombustíveis do Brasil, mas agora, com tantos fatores positivos, já temos o caminho a seguir.


*Marino Franz é sócio fundador da FS Bioenergia e 
Presidente de Fundação de Pesquisa Rio Verde


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