Como é o amor, e como gostaríamos que fosse
Temos o amor como ele é, e o amor como gostaríamos que fosse?
Entendemos o amor como ele é por comparação a um amor que nunca existiu para ninguém.
Por que não damos conta do amor como ele é? Esse nos angustia, exige que façamos concessões, pressupõe a livre escolha do outro, é incerto, livre e gratuito. O amor que gostaríamos, é idealizado, conceituado, matemático, controlador, constante, regular, rotineiro, monótono e chato.
Esse nosso amor racional petrifica, domina e sufoca o outro.
Só conhecemos um caminho para o amor: do amor como ele é, totalmente contraditório e impreciso, para esse amor racionalizado, que impõe o que acha certo e purifica a convivência de todas as suas adversidades – que são típicas de todo ser humano que ama. Precisamos inverter essa ordem.
Não mais partirmos do amor que sonhamos. Aliás, deveríamos deletar esse amor – excessivamente – científico. Deveríamos viver o amor mais que conceituar o amor.
E o que é viver o amor? É aceitar o amor em todas as suas oposições de amar: amar mais hoje, menos amanhã ou até deixar de amar a qualquer hora. Precisamos aprender a amar a inconstância do nosso amor e do amor do outro – inclusive quanto à possibilidade dele amar outros amores enquanto ama o nosso amor.
O amor é lábil, insensato e irracional. Estamos no mundo e mergulhados em um caldeirão de sentimentos. Somos atravessados – o tempo todo – por coisas, pessoas e sensações.
Não escolhemos o que vamos sentir e por quem vamos sentir. Uma vez tocados, não há nada que possamos fazer. Não existe razão, cirurgia, medicamento ou exorcismo para curar nossos sentimentos.
Amar não tem cura. Basta sermos despertados e correspondidos. Feito isso, todo mundo sempre acaba arranjando um jeitinho de viver tudo.
Penso que esse amor monogâmico, fidelizado, cúmplice e confidente, nunca existiu desse modo puro como ele se apresenta.
Aliás, acho que ele só existe para camuflar o amor como ele é, que – no fundo – até os mais santinhos sabem muito bem como agir quando são arrebatados por ele.
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