Existe a lógica de que o passado determina o futuro?
ARTIGO
Se o tema é o futuro, qual seria o sentido da nossa competência, determinação e vontade? Então, esqueça as respostas de cunho determinista, pense, sim, nos fatos aleatórios, são eles que determinam as grandes mudanças na vida. Por mais atentos e informados que sejamos, nada é previsível. A única certeza é a incerteza.
Essa é a tese que emerge da leitura de O andar do bêbado, de Leonard Mlodinow, livro instigante e de leitura indispensável, que procura dissolver as teses deterministas de que, por exemplo, o sucesso de hoje se repetirá amanhã. É o que acontece com aqueles que tentam repetir as vendagens recordes das obras de Stephen King ou Madonna, replicando- as? Ou com os executivos de grande sucesso? E assim sucessivamente. Isso não acontece, segundo o autor, tanto na vida das pessoas como nos negócios.
O próprio Leonard define sua existência como um grande acaso: se seu pai não fosse preso num campo de concentração onde sua mulher foi morta pelos nazistas, tragédia que também aconteceu com seus dois filhos, não teria fugido para os Estados Unidos e casado de novo. Assim, Leonard não teria nascido. E consequentemente O andar do bêbado, que serve de metáfora pelo nosso caminhar incerto na vida, não teria sido escrito. Ele explica: " A guerra é uma circunstância extrema, mas o papel do acaso em nossas vidas não é exclusivamente dos extremos...
Como resultado, a vida é ao mesmo tempo, difícil de prever e difícil de interpretar." Outra explicação perspicaz: "A capacidade de tomar decisões e fazer avaliações sábias diante das incertezas é uma habilidade rara. Porém, como qualquer habilidade, pode ser aperfeiçoada com a experiência." Não é uma certeza, mas uma possibilidade. Pois a vida prima pela aleatoriedade de um jogo de cartas, não a coerência bem previsível de um jogo de xadrez entre grandes mestres.
Ao longo da história, esse caminhar incerto foi chamado de destino. Os gregos o chamavam de a Moira Maquiavel, em seus discursos, lembra que grande parte dos templos romanos eram dedicados aos deuses do destino. Jorge Luiz Borges, num dos seus escritos, lembra que antes de voltarem a vida, as almas liam o livro do destino, mas, igualmente, bebiam no rio do esquecimento. Portanto ficavam desconhecendo o que lhes estava reservado.
O andar do bêbado fica mais perto de um ditado popular, que reza: "O futuro a Deus pertence". só que com ambições científicas. Afirma Leonard: "Os processos aleatório são fundamentais na natureza, e onipresentes em nossa vida cotidiana , ainda assim, a maioria das pessoas não os compreende nem pensa muito a seu respeito."
Científico ou não, o livro atinge seu objetivo: chama atenção para o papel do acaso na vida diária. Além disso, é bem fundamentado é muito bem escrito. Agradável de ler, acima de tudo. Mas é principalmente útil para quem faz prevenção ou gerenciamento de crises em meio a uma grande democracia de massas a exemplo da que começa a surgir no Brasil. Como prever o futuro em um ambiente de liberdade em que a opinião ou a atitude de uma única pessoa pode mudar tudo? Em que as situações são sempre dilemáticas? É aí que o acaso, o imponderável, pode sempre mudar tudo, dar novo tom aos acontecimentos . Por maiores e mais sofisticadas que sejam as previsões.
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