Editorial: Quando ‘doar’ é sinônimo de ‘expressar’.
Muita gente já deve ter ouvindo um “vira essa boca pra lá” ao mencionar qualquer coisa sobre a própria morte, a única certeza que absolutamente todos nós carregamos na vida. De fato, ninguém está preparado para finais. Sejam eles de pequenos ciclos, sejam eles da maior de nossas jornadas: a existência.
Por outro lado, é inegável que em algum momento a pauta passe por nossas mentes por medo, por fé, por curiosidade, por preocupação com quem ou o que fica. E é nessa hora que uma questão até otimista em torno do assunto seja levantada: a doação de órgãos.
Recentemente, aliás, a pequena Charlotte, com pouco mais de um ano de idade, ganhou a internet com sua luta contra a Miocardiopatia Dilatada e um apelo por um novo coração. Foram exatos nove meses de campanha e um mote diferente nas ações que a família dela realizou principalmente no Facebook. Além da boa vontade em doar órgãos, é preciso deixar claro para a família que esse é o seu desejo.
Um ponto delicado e primordial. Para familiares que sentem o adeus de um ente querido, nem sempre é fácil dar aval para que transplantes sejam feitos e a vida continue pulsando no corpo de outra pessoa. É importante, então, que a vontade seja expressa e lembrada.
Quanto maior a corrente afirmativa, maior a conscientização, consequentemente, para aqueles que decidirão, sozinhos e em meio à dor, o que fazer. De forma inevitável. Foi o caso de um pequeno anônimo que, ao partir da Terra cedo demais, permitiu que Charlotte seguisse vivendo – e tudo isso graças à benevolência de pais que, apesar do desespero próprio, optaram por amenizar o de outros.
A bebê tiradentina se recupera em Brasília. Mas em quartos próximos aos dela, outros pequenos rezam por milagres. E é em nome deles que a família de Charlotte segue atualizando a página que a tornou famosa país afora. Algo mais do que necessário.
De acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), em 2016, a taxa de morte encefálica (ou seja, de doadores em potencial) foi de 27,2 por milhão de habitantes. A de doações efetivas, porém, não passou de 16 para cada milhão de moradores no país. Enquanto isso, nada menos que 33,1 mil pessoas seguiram aguardando novos órgãos em fila que é maior para quem precisa de córneas e rins. Em seguida, vêm os que esperam por fígado, coração, pulmão, pâncreas e intestino. Boa leitura.
Gazeta de São João del-Rei
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