272 Anos de Mato Grosso, nosso berço glorioso e gentil

  ARTIGO  

Imagem de Cândido Rondon com Índios Paresis

Pelo Tratado de Tordesilhas de 1494 essa porção de terras nessa parte mais central da América do Sul, onde hoje chamamos de Mato Grosso estaria por direito imaginariamente sob os domínios de espanhóis.

Após o povoamento inicial de Cuiabá em 1721 a partir dos achados de Miguel Sutil, o movimento de expansão territorial e conquista continuou, agora em direção a cordilheira dos Andes, alcançando  em 1734 as franjas do chapadão no chamado reino dos índios Paresi nas proximidades do rio Guaporé.

Segundo relatos históricos de Francisco Caetano Borges nos Anais de Vila Bela de 1754 ao tratar da expansão territorial colonial de Cuiabá para região oeste, os primeiros achados de ouro ocorreu pelo pioneirismo de dois corajosos bandeirantes: “Saiu da Vila do Cuiabá Fernando Paes de Barros com seu irmão Artur Paes, naturais de Sorocaba, e sendo o gentio (índio) Paresi o mais procurado e já quase extinto, e depois de conquistarem alguns nas suas vastas campanhas, cursaram mais ao poente delas com o mesmo intento, e arranchando-se no ribeirão que deságua no rio Galera, o qual corre ao nascente a buscar o rio Guaporé, e aqueles que nasce das fraldas da serras hoje chamadas de São ‘Francisco Xavier de Mato Grosso’ da parte oriental, fazendo experiência de ouro, tiraram nele três quartos de uma oitava (aproximadamente 2 quilos e meio) na era de 1734 e formou-se um pequeno arraial de mesmo nome.” 

Com o boato dos novos achados de ouro às margens dos rios Sararé e Galera no Vale do Guaporé  nasceram 3 pequenos arraiais: São Francisco Xavier (1734), Ouro Fino (entre 1734-1740), Nossa Senhora de Santana do Pilar (entre 1734-1740).

Surgia, como produto dessas descobertas um novo topônimo nos mapas portugueses: Mato Grosso. 
Isso aconteceu em 1734, 14 anos antes do surgimento oficial da capitania que ocorreu m 1748. 

Para o cronista José Gonçalves da Fonseca (1749-1752) os primeiros registros documentais que apresentaram a expressão Mato Grosso seriam atribuídos aos achados auríferos de São Francisco Xavier: “(...) saindo uma tropa de gente da Vila do Cuiabá a explorar as campanhas dos gentios chamados Paresi (...), que habitava nas dilatadas planícies ao norte da grande chapada(...) se determinaram a atravessar a cordilheira das gerais de oriente para poente; e como estas montanhas são escalvadas, logo que baixaram à planície da parte oposta aos campos dos Paresi (...) toparam com matos virgens de arvoredo muito elevado e corpulento, que entrando a penetra-lo o foram apelidando Mato Grosso e este é o nome que ainda hoje conserva todo aquele distrito.”
Segundo o historiador Carlos A. Rosa os documentos escritos e mapas indicam inúmeras referências a essas localidades, de variadas formas: o Mato Grosso, o Mato Grosso dos Paresi, o Mato Grosso do Sertão dos Paresi, Sertão de Mato Grosso no Reino dos Paresi.

Tais notícias das descobertas do vale do Guaporé e suas repercussões logo chegaram no vice reinado do Brasil e na própria corte portuguesa motivando um tempo depois a criação da Capitania de Mato Grosso em 1748.

Portanto, o nome Mato Grosso surgiu da percepção dos exploradores da mudança da paisagem natural, a distinção das características arbóreas do cerrado em relação as do bioma Amazônia.
A criação da capitania ocorreu ao mesmo tempo da fundação da Vila Bela de Santíssima Trindade nas margens do rio Guaporé, ambas motivadas  por razões economicas e  geopolíticas  de consolidação dessa imensa região fronteiriça da América. 

Povoar e batizar os lugares com nomes lusitanos  eram  os primeiros passos para depois requerer o uti possidetis -direito de posse a quem ocupou por primeiro. A estratégia funcionou, pois, esses limites foram referendados anos depois pelo Tratado de Santo Idelfonso de (1777).

Sabendo das façanhas expansionistas de seus súditos no Guaporé, o rei de Portugal D. João V “o magnânimo” no dia 09 de maio de 1748 através de alvará régio determinou a criação de uma capitania, sendo efetivamente instalada em 1751 com a posse do primeiro Governador e Capitão General Dom Antônio Rolim de Moura Tavares, desmembrando da jurisdição de São Paulo.

A decisão de construir a capital no Guaporé chamada Vila Bela da Santíssima Trindade causou um mal estar grande no meio político de Cuiabá e essa escolha renderá muitas dores de cabeça à administração portuguesa. Perdurará até a transferência definitiva da capital para Cuiabá em 20/08/1821 e Vila Bela foi capital de Mato Grosso por 73 anos.

Espero que depois desse texto possamos entender de maneira mais clara algumas questões básicas da história de Mato Grosso a começar pelo significado pelo próprio nome; Porque Cuiabá é mais antiga que o Estado Mato Grosso; Que nos princípios da colonização de 1719 a 1948 (por 29 anos) antes de virar capitania de Mato Grosso essas terras eram de domínio da Capitania de São Paulo, tendo Cuiabá sido capital de São Paulo por 11 meses; O motivo porque Cuiabá apesar de mais antiga, não foi a escolhida pra ser a primeira capital da capitania e por último, a grande estratégia expansionista portuguesa para expandir esse imenso território que hoje chamamos Brasil.

Nada representa melhor essa história de 272 anos de acolhimento generoso á todos que aqui nasceram e para cá vieram do que o hino de Mato Grosso, escrito por Dom Aquino em 1919 que numas de suas passagens definiu nossa peculiar história de expansão fronteiriça de maneira poética: “Limitando, qual novo colosso. O ocidente do imenso Brasil. Eis aqui, sempre em flor, Mato Grosso. Nosso berço glorioso e gentil”



Suelme Fernandes é analista político e 
Mestre em História.

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